ARISTÓTELES:
Aquela escultura é a obra mais bonita!
DUCHAMP:
Não, o meu mictório é a obra mais bonita.
ARISTÓTELES:
Ah, é? E o mijo depositado nela é bonito também???
AGOSTINHO:
Sangue de Cristo tem poder, Aristóteles! Você, um homem culto desse, falando
palavras de baixo calão! E você é pior, Duchamp, tratando isso como uma bela
obra de arte, que deve ser inspirada por Deus. O mundo tá perdido mesmo.
Discordo de todos vocês: a arte verdadeira vem dos Céus, e o homem é apenas um
instrumento usado por Deus para transparecer a verdadeira luz... Bastardos!
DESCARTES:
Prefiro as regras! Como é que alguém pode fazer arte sem regras? São elas que regem
o mundo, vocês que não percebem.
DUCHAMP:
Podendo, ora! A arte vem de dentro e é fruto da subjetividade. Tente casar a
arte com a objetividade e falhe miseravelmente.
AGOSTINHO:
Êpa! Fruto da subjetividade que vem de Deus, não se esqueçam. Se a arte agrada,
é porque ela é bonita, e de onde isso é bonito, Seu Duchamp? Estou perplexo... Deus
faz uma mulher dar à luz uma criança, a criatura cresce e vira um louco desses!
Hoje você está fora de cogitação.
DUCHAMP:
Isso é calúnia, seu patético! Pense comigo: fui ao banheiro público, arranquei
um mictório e o tornei obra de arte. Você não percebe o sentido disso? Sentir a
arte depende de quem vê, e não do que ela é.
DESCARTES:
Ainda prefiro as regras...
ARISTÓTELES:
E eu a bela representação...
DUCHAMP:
Zuada aí! Cada um interpreta como quiser. Se vocês não percebem a quebra de
padrões proposta pela Fonte, o problema é de vocês. Continuem fazendo arte
padronizada e morram engessados, assim como as obras de vocês.
AGOSTINHO:
Falem o quanto quiser, a arte mais perfeita é a pintura inspirada por Deus. O
homem não é o centro e, se for, alcançou a centralidade por obra divina. Não
vou mais perder tempo com vocês. Vou ali, contemplar as maravilhas que o
Criador nos deu... Adeus!
DUCHAMP:
Vai, carniça! E você, cabeção, vai ficar aqui me olhando como se nada tivesse
acontecido? Todos vocês querem desqualificar o meu trabalho e insultar a minha
arte! Vou-me embora, cuidar da minha vida.
ARISTÓTELES:
Aproveite e limpe a Fonte, ainda deve estar fedendo a mijo. αντίο.
Aristóteles refere-se à esta obra |
Fonte de Marcel Duchamp |
Obra à qual Agostinho se referia |
Obra pertencente à estética normativa |
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